A Revolução Ética

A Revolução Ética

14 de Março de 2017

Esta série de artigos, não acadêmicos e, portanto, não filosóficos, sobre Revolução Ética no Brasil, tem o objetivo de trazer à baila, de forma contundente e, por vezes, provocativa, temas relacionados a valores, princípios éticos e comportamentos humanos que regem nosso dia a dia.

Por vezes, são assuntos que nos comovem, levam a reflexão, desconcertam, incomodam, revoltam, causam discussões acaloradas, algumas de qualidade, outras nem tanto, e há aquelas cômicas, entusiastas, céticas, polarizadas, oportunistas ou sensatas. Todas válidas, sem dúvida.

Em tempos de alta conectividade e das mídias sociais todos temos voz, sobretudo quando nunca antes havíamos testemunhado na história deste país a prisão de executivos e figurões da política envolvidos em negócios de natureza duvidosa.

 

É oportuno mencionar que não há viés, político-partidário de qualquer natureza nestes textos, tampouco lados, esquerda, direita, ideologias ou vertentes. Daremos voz às ideias, às reflexões e às nossas crenças e, sobretudo, às discussões saudáveis.

Os temas escolhidos terão, sempre que entendermos razoável e cabível, conexão entre si e, se tivermos sucesso nessa empreitada e conquistarmos seguidores, contaremos com a participação dos leitores com sugestões de temas e com a colaboração de (bons!) textos, os quais ficaremos honrados em publicar. O tema? Ética. E seus desdobramentos relacionados a integridade, na vida pessoal e nos negócios. Sim, em ambos, porque não é possível dissociar um do outro, certo? Falaremos a respeito disso oportunamente.

 

Afinal, o que entendemos por Revolução Ética?

 

O termo advém do latim revolutio; ato de revolver. Ele denota mudança, transformação radical do passado ou situação imediata em uma sociedade. As revoluções são dinâmicas e avassaladoras, pois se trata de uma ruptura da ordem estabelecida. É como um despertar, seguido por uma sede incontrolável de mudança, um inconformismo que afeta diversos âmbitos – social, político, econômico, religioso, literário, moral e etc. – que resultam em alterações profundas em processos históricos e em construções de novas ordens sociais. A existência de uma forte motivação ideológica, de uma crença, está presente no conceito que ora apresentamos.

Revolução, contudo, não se confunde com evolução. Complementam-se, todavia. Evolução, por sua vez, também deriva do latim evolutio, mas faz referência à ação e ao efeito de desenvolver-se passando de um estado para outro. A evolução, portanto, de forma simples, é o desenvolvimento gradual de coisas e organismos de um estado para outro. Este processo pode ser constante, longo, doloroso, cruel, estagnar-se em alguns casos e gerar extinção, mas sempre necessário para o amadurecimento humano, em todos os sentidos.

Assim sendo e, inserido no atual contexto ambiental, político, social, econômico e moral que culminam em crises de valores humanos e movimentos dos mais variados tipos ao redor do mundo, o brasileiro, parece viver o seu despertar ético nessa década. Talvez lento, preguiçoso e letárgico, e por ainda estar assonado, não se levantou para ver esta nova e tímida aurora da ética, aquela que pode vir a se tornar a sua Revolução Ética. Seu marasmo ante esse despertar deve ser consequência de seu ceticismo e incredulidade de que as nefastas e nebulosas nuvens da “Lei de Gerson”, “do jeitinho”, “do rouba, mas faz”, “do eu não sabia” e “do não há provas contra mim” ainda pairam, soberanas desde os tempos da Colônia, por sobre o Brasil, encobrindo a luz da verdade, integridade e da ética.

Historicamente, nossas revoluções não trouxeram alterações significativas na nossa ordem social. Foram mornas. Faltou engajamento da maioria, poucos lutaram, alguns morreram e uma parcela que tornou-se dominante tirou vantagem disso por séculos e o restante seguiu suas vidas. Carregamos esse ranço até hoje. Contudo, esse despertar, esta Revolução Ética é um processo sem volta. Incontrolável. Inevitável, pois o brasileiro percebeu o que as mazelas que a falta de ética, em todos os níveis sociais, causa.

Mesmo sendo um caminho em uma só direção, a Revolução Ética é um processo que requer engajamento, muita discussão e uma forte motivação ideológica para ser consistente e surtir efeitos. Além de entender que revolução se traduz em mudança, ruptura de uma ordem estabelecida, é preciso compreender que Ética, não é tangível, mas representa quem você é. Ela não é relativa e nem conveniente, nem mesmo se você ou quem quer que seja tiver uma justificativa bem fundamentada e articulada para, por exemplo, não ceder o lugar preferencial no ônibus para aqueles que reúnem as condições para usar o assento, por mais cansado que você esteja e mesmo que você trabalhe em pé o dia todo. Aquele assento, simplesmente não é seu. Entendeu? Isso se chama racionalização: justificar para si mesmo, do porquê você acha que pode ou tem “mais direito” do que a outra pessoa que tem esse direito assegurado por lei e pela sociedade.

No mesmo sentido, ética representa o que é certo, e principalmente, o agir corretamente, sobretudo quando ninguém está vendo. Ela é o conjunto de valores que norteiam a sua conduta, as suas decisões em sociedade. Alguns desses valores são inatos (há estudiosos que discordam dessa linha, mas isso não invalida o raciocínio, ok?), outros são aprendidos ou aperfeiçoam-se ao longo da vida. As pessoas melhoram, pioram, amadurecem ou estagnam, mas o que importa é que esse conjunto de valores forjam o que você é.  Por isso, não é concebível uma pessoa ter uma determinada conduta em ambiente profissional e outro em casa e com os amigos. Você é uma pessoa íntegra, ou você não é. Integridade pressupõe consistência. Explico por meio de um exemplo.

Uma vez, por volta de 2013, foi veiculado em rede nacional, uma negociata para fraudar licitações em que a parte corruptora afirmou: “Essa é a ética do mercado”, para justificar a propina. “A Ética do mercado”. Analisar e conjecturar sobre essa expressão daria um outro artigo, mas uma das abordagens seria entender que ela racionalizou a atitude dela, como se dissesse: “Todas as empresas com quem você negociar agirão desta forma. É assim que todo mundo faz” ou “É dessa forma que se faz negócios por aqui. Sempre foi assim. ” ou “Se eu não oferecer propina, outro o fará, você vai aceitar, e eu vou perder o negócio, vou ficar sem comissão, não vou poder pagar o tratamento de câncer do meu filho”. Essas “lógicas” são fáceis de desconstruir, mas voltando ao foco, observe que esse é o mesmo racional que você usa quando finge que está dormindo, manca ou estufa a barriga para fingir que está grávida para sentar no lugar preferencial e não se levantar para quem realmente precisa. É a “ética do mercado”, aplicada ao seu dia a dia.

Quando se fala sobre Ética, não é possível ser literal, não se trata de matemática. Preto no branco. A “zona cinzenta” é grande. Enfrentamos dilemas éticos todos os dias. Abra sua mente. A Revolução Ética já começou e neste exato momento seu ponto de partida é você.

É preciso que cada um mude sua forma de agir e reagir nestas situações para que a cultura da integridade e ética passe a ser a norma no Brasil, para assim conseguirmos chegar ao fim da “Lei de Gerson.”

 

Até o próximo artigo.

Obrigado!

Juliana Breno e Marcos Rossa